O jardim das 21 Taras
Há séculos, os budistas tibetanos cantam louvores às 21 Taras, manifestações femininas da iluminação que são aspectos da Salvadora Veloz, aquela que protege os seres de epidemias, guerras, fome, sonhos ruins, loucura e outras forças maléficas do mundo.
Como base para a visualização na meditação, são produzidas pinturas (tangkas, em tibetano) e estátuas, mas dificilmente uma representação bidimensional ou uma única estátua conseguem transmitir a sensação de que os benefícios de Tara irradiam a partir de um reino puro celestial. Na meditação, o praticante faz essa descoberta em sua própria mente.
O jardim
No Khadro Ling, um centro budista vajrayana criado pelo mestre de meditação Chagdud Tulku Rinpoche (1930-2002), no sul do Brasil, foi construído um Jardim de Tara, com cinco pedestais de lótus. O pedestal do meio, encimado pela estátua de um metro de altura da deidade principal, está rodeado por outros quatro pedestais de lótus maiores, cada qual apoiando um grupo de cinco Taras, com 50cm de altura cada uma.
A criação do jardim se desenvolveu a partir das práticas de meditação em Tara Vermelha e recitação de louvores às 21 Taras, que são feitas diariamente pelos moradores. O jardim também foi inspirado pelo desejo de oferecer aos numerosos visitantes do Khadro Ling um foco para as suas orações e aspirações.
As estátuas
As figuras foram esculpidas em Orissa, na Índia, por artistas que mantém a antiga tradição indiana de decorar os templos com estátuas das deusas esculpidas em arenito. Dois templos do século IX, que originalmente tinham 64 representações de iogues femininas em pé (um templo já perdeu duas de suas estátuas), ainda podem ser encontrados em Orissa, perto de Bhubaneshwar e Titilagarh.

As estátuas das Taras, antes de receberem os implementos.
Significados
Cada Tara apoia a mão direita no joelho, com a palma voltada para fora, expressando a generosidade suprema. Na mão esquerda, elas seguram o caule de uma flor de lótus que se abre ao lado da orelha. Um artista butanês que reside no Khadro Ling entalhou um conjunto perfeito de implementos que foram colocados provisoriamente no alto de cada lótus. Um segundo conjunto será enviado para Orissa, copiado em pedra e mandado para o Brasil para, então, ser instalado.
A Tara central irá segurar um arco e flecha feito de flores de lótus, expressando os meios hábeis e a sabedoria. O séquito das vinte Taras está distribuído entre as quatro famílias, que desempenham os quatro tipos de atividade.
Ao leste, no lótus em frente à Tara central, estão as cinco Taras da família Vajra, cujas atividades subjugam pacificamente. A Tara ao centro da família Vajra segura um espelho que simboliza a clareza e a sabedoria que é como o espelho, que surgem quando a raiva é pacificada.
Ao sul, à direita da Tara central, estão as cinco Taras da família Ratna (Joia), que aumentam a riqueza, as qualidades e a longevidade. A Tara que está no centro da família Ratna segura um vaso de prosperidade (bumpa) e expressa a sabedoria da equanimidade, que surge quando são superadas todas as nuances do orgulho centrado no ego.
A oeste, atrás da Tara central, estão as cinco Taras da família Lótus, cujas atividades magnetizam a mente dos seres e fazem tudo o que for necessário no caminho que leva à consciência iluminada. A Tara ao centro da família Lótus segura uma concha na posição vertical, significando a purificação da fala e da reputação, bem como a sabedoria de discernir a verdadeira natureza dos fenômenos.
Ao norte, à esquerda da Tara central, vemos as cinco Taras da família Karma, cujas enérgicas atividades iradas protegem contra o mal. A Tara que está no centro da família Karma segura uma roda do Darma, o que significa que os ensinamentos do Darma de Buda são a fonte da sabedoria que tudo realiza, que supera a inveja.

Sang Ngag Rinpoche e lamas, durante a consagração do local onde seria construído o Jardim
A construção
O espaço construído para abrigar esse arranjo sagrado, uma mandala, passou por diversas versões arquitetônicas. Os templos das iogues femininas do século IX, situados perto de Orissa, são circulares, com as 64 estátuas colocadas lado a lado, em nichos, ao longo da parede interna.
Os primeiros projetos para o Khadro Ling, criados por arquitetos voluntários, basearam-se naqueles templos, mas a área disponível era muito pequena, e o centro do templo a céu aberto não teria oferecido nenhuma sombra ou proteção contra a chuva para os visitantes. Foi então projetado um templo tibetano mais tradicional — os textos tibetanos dizem que o palácio celestial de Tara tem a forma de três quartos de lua —, mas os desenhos pareciam não combinar com as estátuas de estilo indiano.

Jardim das Taras durante a noite.
O paisagismo
Os jardins que ladeiam o amplo caminho que leva à mandala de Tara são um trabalho em andamento. Em outros jardins do Khadro Ling, foram plantadas gloriosas flores tropicais e arbustos resistentes. Como Tara representa o aspecto feminino da iluminação, os paisagistas tentaram cultivar rosas e flores variadas.

Há alguns anos, foi realizado no jardim um evento para angariar fundos, sob um céu limpo e estrelado e a mandala iluminada por lanternas brilhantes.
O futuro
O próximo passo do projeto do jardim é produzir textos explicando o que cada uma das Taras faz especificamente para proteger e beneficiar os seres. As placas precisam ser pequenas e bem colocadas, de modo a não se tornar uma distração para a simplicidade e graça misteriosa dessas nobres damas.